19 agosto 2011

Cientistas garantem descoberta de nova forma de contaminação do vírus HIV


Uma descoberta, revelada na edição de hoje da revista científica Nature, pode revolucionar a maneira como a Aids, doença que afeta hoje 34 milhões de pessoas no mundo, é tratada. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Passadena e da Universidade da Califórnia %u2014 Los Angeles, ambos nos Estados Unidos, afirmam ter descoberto uma nova forma de contaminação celular do HIV. De acordo com os pesquisadores, o vírus da Aids tem a capacidade de se propagar entre as células humanas, e não apenas através da corrente sanguínea, como se imaginava antes. A descoberta explica, por exemplo, por que, mesmo com altas cargas de medicamentos, não é possível eliminar o vírus do corpo humano, e abre um novo caminho para o desenvolvimento de uma vacina.

Um dos maiores mistérios que ainda cercam o HIV e a Aids, 30 anos depois da descoberta da doença, é a razão de, mesmo com o uso massivo de medicamentos antirretrovirais, uma pequena parcela do HIV suficientemente grande para a recontaminação conseguir sobreviver e manter o paciente doente. Depois de observar in vitro células de pacientes com HIV, os especialistas descobriram que, dependendo de como a célula se contamina, a reação do vírus aos medicamentos é diferente.Na contaminação "convencional" %u2014 quando o HIV no sangue penetra em uma célula saudável %u2014, a reação aos medicamentos é alta, ou seja, as drogas existentes hoje (em especial, o Tenofir) conseguem destruir quase totalmente o vírus. Na nova contaminação, porém, a reação não é tão eficiente. Mesmo com doses mais altas, uma alta carga de HIV persiste na célula. "Quando isso acontece, a chance de pelo menos um único vírus resistente à medicação começar a se replicar após o uso das drogas é muito maior", explica Alex Sigal, principal autor do estudo.Os cientistas suspeitam que o HIV, após infectar as células, entre em uma espécie de período de dormência. Mesmo tendo invadido a célula, ele permanece incubado, não sendo detectado pelos medicamentos ou pelo sistema de defesa do organismo. "É importante determinar se existe ou não esse reservatório, já que esses depósitos precisam de maneiras diferentes de tratamento em relação a regiões onde o vírus é latente", diz Sigal. Caso isso se confirme, os cientistas precisarão utilizar novas susbtâncias que ativem o vírus, retirando-o desse estado de dormência. Em seguida, uma combinação de medicamentos poderia eliminar toda a carga viral antes de o HIV infectar novas células.O próximo passo da pesquisa será analisar mais profundamente os mecanismos de infecção do HIV. "Queremos saber como ele infecta órgãos como os gânglios linfáticos e como, exatamente, ocorre a transmissão de célula para célula", afirma o pesquisador norte-americano. "Nós estamos realmente procurando por uma cura, mas, para chegar a uma cura, você tem que entender completamente os detalhes da doença", afirma Sigal, que não arrisca quanto tempo vai levar para tratamentos baseados na descoberta poderem ser testados em humanos.CópiasOutra novidade em relação ao HIV trazida na última edição da Nature está relacionada aos anticorpos produzidos artificialmente para combater a Aids. Os chamados anticorpos monoclonais são uma espécie de cópias de um linfócito B, que é naturalmente fabricado pelo organismo. Há décadas, produzir células monoclonais cada vez mais eficientes tem sido um enorme desafio para os cientistas, pois elas têm a capacidade de atacar um amplo espectro de agentes patógenos.Os pesquisadores do Scripps Research Institute, de La Jolla, e da Universidade de Harvard, ambos nos EUA, conseguiram fazer uma combinação de 17 tipos diferentes de células de defesa especializadas em retrovírus %u2014 como o HIV %u2014 desenvolver uma nova estratégia altamente potente contra a Aids, em especial nos casos em que o paciente desenvolve resistência aos medicamentos atualmente utilizados. Os primeiros testes, ainda em células, mostraram que o novo coquetel de anticorpos é cerca de 10 vezes mais eficiente que os superanticorpos PG9, PG16 e VRC01 recentemente descobertos, e até 100 vezes mais eficiente que um anticorpo normal.

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